Minha relação com a Aldeia







Minha relação com a Aldeia começou quando eu ainda era pequena. Não tenho vergonha em dizer que meu pai era um alcoólatra, antigamente os alcoólatras eram internados  em   manicômio,e na aldeia de Carapicuíba tinha um de nome Anhembi.... E meu pai foi internado lá algumas vezes, e eu ia com minha mãe visitá-lo, eu ficava feliz em vê-lo e ele as vezes chorava de vergonha por estar naquelas condições. Hoje entendo que a ingestão e bebida feita pelo meu pai era uma válvula de escape, e que o tratamento que davam na época poderia ter sido outro. No dia que ele recebia alta saia cheio de esperança de nunca mais voltar, e parávamos na igrejinha da foto para rezarmos. Isso marcou muito minha infância, pois todas as vezes da alta eu ia junto buscá-lo. Certa vez quando fomos buscá-lo ele tinha fugido, foi muito triste.... Quando voltava ficava por um tempo sem beber, mas não resistia quando chegava em casa lembrava das internações e brigava com minha mãe, como batia nela os vizinhos chamavam a polícia e a polícia o levava, e outra vez a internação..... Episódios tristes da minha vida....
Mas teve muitos episódios felizes também, eu era a caçula e era a nenê ... Ele me agradava muito... Quando morreu eu tinha oito anos, estávamos vindo de uma festa de aniversário do  meu primo no bairro vizinho ao nosso, mas tinha uma rodovia que separava os bairros e tínhamos que atravessá-la, eu estava de mãos dadas com ele e ele me mandou ir com minha mãe.... Quando cheguei perto da minha mãe, vi um carro capotando uma poeira, estilhaços do carro e não vi mais meu pai..... Eu minha mãe e minha irmã ficamos o procurando, o carro caiu debaixo da ponte, e a 100 metros estava o corpo de meu pai estirado no chão.... Estava morto e eu uma menina de apenas oito anos, tentei acordá-lo, um carro parou para ajudar um rapaz veio nos tirou dela e minha irmã que na época tinha 14 anos disse que sabia chegar na casa da minha tia, eu também sabia ..... Mas meu cunhado morava mais perto e fomos lá.... Mas e a aldeia?

A aldeia ficou marcada em minha memoria quando rezávamos todos juntos, fé, esperança.... Tempo  depois, eu desempregada, pedi um emprego em minha orações e apareceu um na escola da Aldeia de Carapicuíba, então todos os dias descia do ônibus na aldeia e algumas vezes fui a capela rezar.... Lembrava então de meu pai..... Ouvi na época do acidente comentários na família que ele se  suicidou, o rapaz que dirigia o carro disse que ele se jogou na frente do carro, nunca iremos saber a verdade..... 
Mas ali naquela capela eu rezava por ele....
Depois rezei por mim também, para me livrar de uma vida que não estava bem,e outros fatos também aconteceram... mas que não vou relatar....  

Quando passei no primeiro concurso público para professora e me tornei  efetiva, foi em Carapicuíba, e tínhamos um projeto aula no Parque e era ali no parque da Aldeia que as aulas eram realizadas.....


Por isto minha escolha em uma parte de minhas cinzas quando for cremada será jogada neste parque.... Nem sei se está conservado.... Mas quero que parte de minhas cinzas fiquem ali ......

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