Florbela Espanca

É tão triste morrer na minha idade! E vou ver os meus olhos, penitentes. Vestidinhos de roxo, como crentes Do soturno convento da Saudade! E logo vou olhar (com que ansiedade!) As minhas mãos esguias, languescentes, Mãos de brancos dedos, uns bebês doentes. Que hão-de morrer em plena mocidade! E ser-se novo é ter-se o Paraíso É ter-se a estrada larga, ao sol, florida, Aonde tudo é luz e graça e riso! E os meus vinte e três anos...(Sou tão nova!) Dizem baixinho a rir "Que linda a vida!" Responde a minha Dor: "Que linda a cova!"
Florbela Espanca

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